domingo, 27 de novembro de 2016

Estudantes criam aplicativo que move cadeira de rodas


Foto Marcelino Junior


Santa Quitéria. Usar a tecnologia junto à robótica para facilitar o cotidiano de pessoas que utilizam cadeiras de rodas, otimizando o deslocamento das mesmas por meio de um aplicativo de telefone celular. Essa foi a ideia que uniu um grupo de alunos da Escola Profissionalizante Monsenhor Luís Ximenes Freire, na cidade de Santa Quitéria, no Norte do Ceará, para apresentação na feira de ciências da escola, em abril do ano passado. O projeto obteve êxito, dando ao grupo o primeiro lugar em robótica na etapa municipal.

Feira de robótica

O passo seguinte foi a participação na feira regional de ciências, naquele mesmo ano, onde o projeto também levou a primeira colocação. O grupo ainda representou o Ceará na etapa estadual da mesma feira, onde os participantes receberam um convite para apresentarem o trabalho na Mostra Nacional de Robótica (MNR), maior mostra científica de trabalhos de robótica do País, que tem o objetivo de expor e divulgar tudo relacionado ao tema.

A MNR busca valorizar o conhecimento interdisciplinar integrado, estimulando a criação de trabalhos entre robótica e diversas outras áreas, como humanidades, artes, ensino, ciências e inovação, além das tradicionais áreas de elétrica, mecânica e computação.

Bolsa de pesquisa

Com apoio da escola e dos próprios pais, quatro alunos seguiram para Recife, neste mês de outubro, para disputar espaço entre outros projetos nacionais e internacionais na Mostra Nacional de Robótica. O resultado foi divulgado nesta semana, e a surpresa é que o "Projeto Wheelchair Tech", da cidade de Santa Quitéria, foi aprovado entre outros 70 trabalhos que receberão uma bolsa para pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "Estamos em fase de organizar a documentação dos alunos e da escola, solicitada pelo CNPq, para que efetivamente eles possam receber a bolsa para aprimorar o trabalho em 2017", comemora a professora de Informática e coordenadora do projeto, Ana Eliza de Mesquita Sousa.

Aplicativo

O projeto de robótica, que levou os alunos da Escola Profissionalizante de Santa Quitéria a se destacarem nacionalmente, é resultado de um trabalho multidisciplinar com onze integrantes das áreas de Informática, Eletrotécnica e Enfermagem. Os comandos da cadeira inteligente são passados por meio de bluetooth, sem a necessidade de internet, onde o usuário, por meio de um aplicativo instalado no celular, envia informações com códigos simples para uma placa Arduíno instalada na cadeira. O Arduíno, criado em 2015 por um grupo de pesquisadores, é um dispositivo com hardware livre, barato, funcional e de fácil programação; acessível a estudantes e projetistas amadores, com a vantagem de montagem, modificação, melhorias e personalização a partir do mesmo hardware básico.

Ao acessar o aplicativo, os comandos enviam para a placa: F (frente), T (trás), D (direita), E (esquerda) e P (parar). A cadeira, também possui dois sensores ultrassônicos, que captam obstáculos que estejam à frente ou atrás, evitando batidas. O diferencial, em relação aos modelos de cadeiras motorizadas que circulam no mercado, segundo a pesquisa, é o preço das peças utilizadas, que podem ser reaproveitadas.

"Nós estamos felizes com a bolsa para ampliar a pesquisa, mas desejamos mesmo é algum tipo de investimento no projeto para que a 'Wheelchair' possa ser desenvolvida para ser lançada em escala. Com certeza, dentre as vantagens, estão o baixo custo, os benefícios alcançados, além da abordagem de sustentabilidade, quando se fala em reutilização", garante Adriano Melo, de 17 anos, um dos autores do projeto.

Testes

O aluno de Eletrotécnica Joel Pereira de Sousa, de 16 anos, comemora a participação, tanto na construção do protótipo que serviu de base, quanto na instalação da fiação da aparelhagem, parte que compete ao seu curso. Joel, também utilizou a cadeira inteligente durante a fase de testes e comprovou, na prática, a capacidade do equipamento.

"A cadeira tem sim potencial para o mercado. Eu me sinto realizado em saber que estou participando de algo que pode melhorar a vida de pessoas. Principalmente no que se refere à acessibilidade", disse, o jovem orgulhoso, enquanto circulava pelo laboratório da escola, realizando alguns ajustes no modelo piloto, acompanhado de olhares atentos dos companheiros da equipe.

"Estamos muito felizes com a dimensão que o projeto alcançou, indo além da nossa escola. Este trabalho, desde 2015, vem caminhando, ampliando em novas pesquisas, envolvendo alunos e professores de diversas áreas. O destaque mostrou o potencial dos nossos alunos, que trabalham numa linha que tenta ver a função social de cada projeto apresentado aqui na Escola Profissionalizante, onde o questionamento comum é de que forma cada ideia apresentada vai poder responder uma determinada demanda da sociedade", disse Antônia Gizela Araújo, diz a diretora da Escola.