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( Foto: Honório Barbosa ) |
Iguatu. A partir de hoje começa oficialmente a quadra chuvosa no Ceará (fevereiro a maio), período esperado com grandes expectativas, após cinco anos seguidos de chuvas abaixo da média. É também um tempo de muitas preocupações por causa da perda elevada das reservas hídricas nos açudes, que hoje acumulam em média apenas 6,27%.
Dezembro de 2016 e janeiro passado (os dois meses da pré-estação chuvosa) terminaram com índices pluviométricos abaixo da média. O acumulado no bimestre foi de 103,4mm, em média. Em dezembro de 2016, as chuvas ficaram, em média, 6,4% abaixo do esperado em todo o Estado.
Em janeiro último, o índice de queda foi ainda maior, 25,3%. Todas as regiões registraram chuvas abaixo da média no início deste ano. A mais afetada foi a Jaguaribana que apresentou desvio negativo de 60%. A mais favorecida foi o Litoral Norte, que registrou uma queda de apenas 3,3%.
Necessidade
A meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Meire Sakamoto, afirma que o Ceará precisa de intensas chuvas para favorecer a recarga dos açudes, que estão secos ou secando rapidamente em razão da evaporação e do crescimento do consumo. "A terra está muito seca, o que consome as primeiras chuvas. "Os pequenos açudes vão encher primeiro e só depois a água escorre para os grandes reservatórios", explica.
A Funceme divulgou o primeiro prognóstico para a quadra chuvosa em janeiro passado, prevendo 40% de chances para ocorrência de chuvas dentro da média, 30% acima e igual índice de ficarem abaixo do esperado para o período. No início da segunda quinzena deste mês divulga uma segunda previsão. "Por enquanto as condições permanecem de neutralidade", disse Meire Sakamoto.
A meteorologista da Funceme fez questão de observar que as chuvas de pré-estação não se relacionam com a quadra. "Às vezes temos boas chuvas em janeiro e uma quadra chuvosa ruim, como ocorreu em 2016", compara. "O inverso também é verdadeiro, como já ocorreu em outros anos", completa.
Estudos do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) e do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) revelam elevado risco de não ocorrer recarga nos reservatórios durante o atual período chuvoso. Se essa estimativa ocorrer, o fim deste ano será marcado por um colapso no sistema de abastecimento das cidades, incluindo a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). "Todos os anos chove, e às vezes as chuvas atingem a média, são bem distribuídas e até boas para a agricultura, mas não chegam aos açudes", observa Meire Sakamoto. "Podemos ter um inverno na média sem significativas recargas nos reservatórios e isso nos traz muita preocupação", especifica.
Açudes
Os 153 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), cuja capacidade total é de 18,64 bilhões de metros cúbicos, apresentavam, ontem, volume médio de 1,17 bilhões de metros cúbicos, ou seja, 6,27%.
O volume de água das 12 bacias hidrográficas do Ceará atualmente apresenta a seguinte distribuição: Litoral (25%), Alto Jaguaribe (11,84%), Coreaú (24,98%), Metropolitanas (9,48%), Serra da Ibiapaba (13,06%), Médio Jaguaribe (4,56%), Salgado (9,49%), Acaraú (6,75%), Banabuiú (1,64%), Sertões de Crateús (1,23%), Curu (1,35%) e Baixo Jaguaribe (0%).
Ao longo do ano de 2017, já foi registrado um aporte total de 17,63 milhões de metros cúbicos, mas que se perdeu mediante a evaporação e consumo. Desde 2012, a cada ano os índices vêm caindo nos açudes. Para o titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, se a atual quadra chuvosa não for favorável para a recarga dos reservatórios, novas medidas visando ao consumo serão anunciadas.